quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Cracolândia, quem se importa ?



Há cerca de um ano e meio, um casal passando pela cracolândia, viu a realidade daquela gente e resolveu humanizar e desenvolver ações sociais no varadouro, cidade baixa de João Pessoa, onde se aglomeram os chamados "nóias" . ( esse é o nome dos que usam crack, desprezados até pelos usuários de outros tóxicos). Lá, onde é conhecida também por cracolândia, a droga faz parte de uma rotina de muitas carências.
Fui convidada a conhecer o trabalho desse grupo e fiquei encantada com o amor e a dedicação que eles empregam. Me acostei ao Projeto Cristolândia e estou dentro da minha disponibilidade de tempo, dando minha parcela de contribuição.
Encontramos uma casa velha sem portas, no centro da cracolândia, onde servia de abrigo para os próprios usuários, descobrimos o dono, alugamos e restauramos. Através de doações entre as próprias pessoas envolvidas no projeto, conseguimos equipar a casa com camas, tvs, som, poltronas, enfim, uma casa abrigo, como a chamamos, é o ponto de apoio onde desenvolvemos os trabalhos com crianças, jovens e até adultos da comunidade.
A casa permanece aberta à comunidade de segunda à sexta nos dois turnos com equipes que se revezam. A cada 15 dias à noite é servido um sopão. Nessa foto acima, estávamos em plena atividade. Estamos programando para 19 de março uma dia de intenso de atividades sociais, para tanto já estou entrando em contato com médicos, dentistas, psicólogos, cabeleireiros e educadoras socio-religiosas para trabalhar com as crianças.
Quem usa crack é conhecido por sujar muito a área, no sentido de criar confusão, roubando a própria família, e os roubos sempre visam dinheiro imediato para comprar a pedra de crack. Desfazem-se de tudo o que têm, dormem fora de casa, não comem. Deixam de se cuidar, ficam sujos e, muitas vezes, se enfiam nas lixeiras, em buracos... Por isso, são conhecidos por muitos como “ratos da cidade". Mas, Pelas ruas da cracolândia onde muitos temem passar, andamos tranquilos e somos respeitados. No natal de 2010 realizamos um jantar para eles e disponibilizamos o banheiro para que eles fizéssem asseio ( tinha um rapaz que não tomava banho há seis meses ) demos-lhes roupas novas e escova de dentes.
O projeto Cristolândia não tem nenhum vínculo com agentes políticos. Tudo que é investido no projeto sai do bolso de cada integrante que paga uma taxa mensal. O amor a essas vidas destruídas é a base da nossa motivação. Não pedimos dinheiro a nenhuma instituição, porém aceitamos doações de roupas, calçados e objetos para atender as necessidades da própria comunidade. Contatos para doação pelo josycomunica@gmail.com.
Conhecendo a droga
Em menos de 15 segundos, a droga causa uma potente sensação de euforia, bem-estar e força física. Em menos de 15 minutos, ela termina. Logo vem uma depressão intensa. É como ligar e desligar de uma vez todas as luzes de um arranha-céu. Como os efeitos são tão imediatos, o organismo associa mais facilmente causa e efeito. Nas palavras dos usuários, eles ficam dominados pela pedra. "Não é como outras drogas, que eles compram para usar depois. A 'fissura' (desejo intenso de consumir a droga) é tanta, que usam na hora em que compram.
Tratamento possível
A cada uso, os vasos sangüíneos se contraem, a pressão sobe, o coração dispara, a respiração acelera, os neurônios se estimulam. Pode haver convulsão, infarto, derrame ou má oxigenação. De qualquer forma, coração, cérebro e pulmão ficam debilitados. Sem se cuidar ou comer, o usuário fica ainda mais vulnerável.
Vítima punida
O crack não pode ser encarado apenas como uma questão médica ou policial, e sim social, "Ele é sinal da vergonhosa e total falência das políticas públicas, em nível nacional, que expõem a criança à rua, não dão outras alternativas e, ao mesmo tempo, não impedem a chegada da pedra. Os órgãos públicos deviam resolver quem assumi a tarefa do atendimento ao usuário, trabalhar de forma articuladas entre as tres esferas do executivo e as escolas deviam realizar programas preventivos. Na minha humilde opinião, o caminho da mudança é uma ação coletiva e solidária.