terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Cai Cai Tanajura - Paisagem do Interior


Ano passado quando as águas de março estavam fechando o verão, eu voltava pra casa final de tarde e ao entrar na “minha rua” eu avistei um grupo de crianças e adolescentes fazendo a farra da tanajura. Quem nasceu no interior sabe exatamente do que estou falando. Quando o inverno está se aproximando, o primeiro sinal é a “enxurrada” de tanajuras. Até hoje não sei pra que elas servem. Tem gente que as come por apreciar o sabor, outros acreditam que ela cura problemas na garganta. Não entendo o prazer das crianças de ver a queda das tanajuras. Mas uma coisa eu concordo, é uma farra totalmente saudável, sem violência, nem prejuízos. Ao contrário da farra do boi e outras tantas farras onde pessoas adultas, de uma forma incompreensível e absurda, derrubam animal, machucam e são machucados, coisa de louco.

No meio daquela meninada eu avistei meu filho caçula de 13 anos ( vocês pais já notaram que os filhos caçulas são sempre criança pra gente ? ) e ele estava eufórico. Acredito que foi sua primeira farra da tanajura. Sempre tive a mania de contar episódios da minha infância e adolescência pros meus filhos. Eles amam ouvir. E certa vez eu falei da derrubada de tanajura que eu participei lá em Sumé. Isso foi o suficiente para que meu filho ao meu ver chegando em casa , me pedisse insistentemente que eu fosse também tentar derrubar os insetos que voavam tirando um fino na cabeça da meninada. Para não desapontá-lo, cansada como me encontrava, disse-lhe que correr eu não iria, mas poderia ficar dando um “apoio”. Pode ser que algum leitor ache uma besteira, mas pude dar-me ao luxo de colocar uma cadeira na calçada e ficar assistindo aquela cena tão simplória para mim, mas de um grande valor para aquelas eufóricas, felizes e barulhentas crianças que vibravam à queda dos formigões.

O meu filho “caçador de tanajuras”, as derrubava e deixava no chão. Ele ía no embalo das outras crianças, por pura brincadeira. Por um momento eu me questionei: “será se outros bairros tem essa mesma “peculiaridade” ? Será se estou mesmo no bairro de uma capital ? pois era uma paisagem purinha do interior, como diria nosso querido Poeta Jessier Quirino.
Não sei se nesses bairros de muitos arranha-céus, as crianças têm a oportunidade de vivenciar esta sazonalidade que tem a cara de interior. Mas creio que eles iriam se divertir muito correndo atrás dos formigões.

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Apenas Uma Jesuscidência

Tem coisas nessa vida que muitos chamam de coincidência, mas eu prefiro chamar de Jesuscidência. Traduzindo: “coincidência promovida por Jesus”.
Não lembro o mês que isso aconteceu, mas foi no ano passado. Trabalhava na época numa determinada instituição e costumava sair todos os dias ao meio dia. Neste dia, fiquei conversando com alguns colegas e quando dei por mim já era quase duas da tarde. A fome já dava “sinal de vida”. Me apressei para ir embora e ao me despedir, uma das pessoas que estavam comigo, uma colega jornalista, muito querida e respeitada no Estado, ( não vou citar seu nome por motivo superior ) recebeu uma ligação no celular com um pedido de socorro.
Uma jovem ligava dizendo que seu pai – que é muito amigo da jornalista - teria tentado suicídio ingerindo vários medicamentos e que estaria trancado no seu apartamento.
Nesse momento, a colega me “intimou” a ir com ela salvar aquela vida. Como cristã, jamais poderia me negar a prestar tal serviço. Não tínhamos o endereço do homem. Mas mesmo assim, enquanto ela dirigia eu pelo celular fui fazendo contato com pessoas da família e finalmente descobrimos o bairro. Tocamos para o Altiplano. E quem disse que a gente conseguia encontrar a rua? Mais um contato feito às pressas com dificuldade conseguimos chegar ao prédio.
Subimos na carreira e ao chegar no apartamento, batemos, chamamos e nada. Tive a idéia de arrombar a porta. Era o único jeito.
Paremos um pouco aqui para eu contar um grande detalhe dessa história. Quando estávamos procurando a rua, eu avistei um senhor sentado no meio fio, debaixo de um sol escaldante, achei aquilo um absurdo e até pensei em pedir a minha colega que parasse um pouco alí para saber por que aquele homem estava “se cozinhando” naquela calçada. Eu pensei, deve ser mais um pedinte que resolveu descansar as pernas. Mas debaixo daquele sol ? Bom, me senti angustiada por não ter ido falar com aquele senhor, mas a urgência do suicida me fez o esquecer rapidamente.
Voltando a história. Enquanto pensávamos rapidamente em como abrir aquela porta, chegou o filho da empregada dele e disse que sua mãe tinha a chave do aptº e era bem perto dali. Corremos pro carro e lá fomos nós. Ao entrar na rua da dita cuja, avistei o homem de novo, desta vez, mais no meio fio, mas sentado no meio da rua. Aí eu não hesitei. Gritei “pare o carro”! quando aproximamos, nossa colega o reconheceu. Era o seu amigo que estava ali. Aquele que eu tinha visto desde o começo.
Nossa luta foi o colocar dentro do carro. A essa altura não dava pra chamar samu, nem bombeiro. A colega foi dirigindo e eu no banco de trás segurando o homem que já não mais sustentava o corpo.
E a cena foi mais ou menos assim: eu gritava “corre que o “home” ta morrendo nos meus braços. o carro deu quase tudo que podia. E eu além de segurar o homem com o braço esquerdo, com o direito eu acenava para os carros pedindo passagem e gritando é uma emergência!
Nesse ínterim, fui tentando mantê-lo acordado e consciente. Ele me disse o que tinha tomado e porque não queria mais viver. E eu ciente da minha impotência, diante do fato, apenas lhe falei palavras que não são minhas, mas de Deus. “Vinde a mim, todos os que estão cansados, sobrecarregados e oprimidos e Eu vos aliviarei”... “Ainda que teu pai, tua mãe, os teus te desprezem, eu jamais te abandonarei”... Fui tentando amenizar a agonia da alma daquele homem, dizendo-lhe palavras de ânimo.
Graças a Deus, chegamos ao hospital. Já não falava mais nada. Foi atendido de imediato. Tinha plano de saúde. Fiquei um tempo lá aguardando até a chegada da família e fui embora. E a fome ? sumiu ! voltei pra casa aliviada por ter sido portadora de uma Jesuscidência.
E o cidadão ? graças a Deus escapou. Não soube mais dele. Mas certamente está bem agora.

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Uma Pessoa, Duas Realidades


Tive uma grande perda em 2002. Perdi uma sobrinha de 13 anos. Menina linda, já uma mocinha. Perfeita. Tudo nela era bonito. O seu viver então nem se fala... cheia de alegria, de brincadeiras, de saúde, era uma “draguinha”. Gostava de reunir os primos, as coleguinhas pra brincar de teatro em casa.
Até que um dia começou a dar sinal que tinha algo de errado com sua saúde. A mãe correu pro médico, fizeram exames e foi constatado leucemia. Começou o tratamento de quimio e radioterapia. A resposta era lenta, mas Jéssica era forte e continuava com a mesma alegria de antes, totalmente alheia ao que estava lhe acontecendo. Feito o teste de compatibilidade de medula com uma das irmãs e o resultado foi ok. Tudo pronto para viajar à São Paulo onde o transplante seria feito.
(abrindo aqui um parêntese para dizer o quanto lugares, cheiros e músicas nos remetem ao passado com ligeireza de fazer espanto - A avenida liberdade de Bayeux, é um lugar que eu não gosto de passar. No final do texto você vai saber porque).
Chegou o dia da viagem de Jéssica para São Paulo, onde iria se submeter ao transplante de medula. Todos os parentes que puderam vir, vieram. Eu cheguei logo cedo na casa da minha irmã ( a mãe de Jéssica ), com meus filhos que eram carne e unha com ela. Todos se esforçavam pra parecer um dia normal. Mulheres na cozinha, homens na sala, crianças brincando, mas meu coração de tia estava apertado demais e um sentimento de ída sem volta estava impregnado dentro de mim. O que eu senti foi muito ruim. Segui os passos da minha sobrinha, brinquei muito com ela, inclusive almocei pela última vez ao seu lado. Era como se eu quisesse aproveitar cada minuto de sua vida alí comigo.
Janeiro de 2002. Domingo, vôo às 14:30.Fomos todos para o aeroporto Castro Pinto. Não lembro quantos carros. Mas lembro que passamos pela avenida Liberdade e todos riam com ela. Ao chegar no aeroporto, tiramos várias fotos, ela super-feliz por voar pela primeira vez. Eu, o tempo todo segurando pra não chorar. Mas eu sentia que aquela seria a última foto, o ultimo abraço, o último sorriso, o último carinho, o último tudo com ela.
Voaram. Durante a internação, Jéssica tirou fotos, fez um diário, escreveu coisas dignas de uma despedida. Finalmente chegava o dia do transplante. Mas no calendário do criador o tempo já dela já estava cumprido. Com a imunidade baixa, um motivo qualquer a levou para o CTI e de lá adormeceu para sempre.
As mesmas pessoas que as deixaram, foram as mesmas que as receberam de volta no aeroporto. Só que em duas realidades diferentes. Jéssica viajou sentada ao lado da mãe, num lugar onde só é permitido entrada de pessoas. Mas, voltou longe da mãe, num local onde só é permitido a entrada de cargas. Isso foi muito duro. Hoje, passados 8 anos, tenho mais consciência de quão transitória é nossa vida. Cada minutinho respirando, vivendo, é uma preciosidade. Valorize isso! Essa foi a última foto em solo paraibano, tirada dentro do avião.

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Anti-Estresse que Funciona


Talvez entre os leitores, alguém vai balançar a cabeça e dizer “que bobagem”. Mas é bom lembrar que funciona viu ?
Eu imagino que toda profissão, até a mais “light”, tem seus momentos de estresse. Imagine a de jornalista. Especificamente quem trabalha na produção e vou mais além, produção de programas ao vivo. Pois bem, durante muitos anos produzi programas radiofônicos e televisivos ao vivo e minha agonia se repetia todos os dias. Eu começava logo bem cedinho confirmando com os convidados/entrevistados. Duas horas mais tarde, eu ligava re-confirmando. E até chegar a hora do programa, o convidado não tinha sossego comigo. Programa ao vivo já viu não é ? buraco nem pensar! principalmente em tv. Enquanto isso, o corre-corre nos bastidores, pauta, notícias, coisa de últimas hora, imprevistos etc.
Como eu morei um tempo no bairro Tambiá, “em cima” da Bica, e como eu a-d-o-r-o fauna e flora, vocês sabem o que eu fazia pra escapar de um possível “surto” de estresse ? terminado o programa, quando a coisa pegava mesmo, eu corria pra “bica”. Do jeito que eu tava. As vezes de salto. Era só tirar o sapato e o blazer. Lá ia eu descendo a ladeira do zôo. Chegando lá, lavava as mãos na fonte de Tambiá, que jorra sem parar. Depois ficava horas vendo os patinhos nadar e os macacos-prego fazendo suas peraltices. Quando eu dava por mim, estava ali sorrindo, com a musculatura dos ombros, que outrora rígida pela tensão do trabalho, totalmente descontraída.

Depois disso eu caminhava por entre as alamedas sentindo o cheirinho das árvores. Puxa vida, aquilo me dava uma alegria muito grande! Dava vontade de cantar, dançar, pular.
Durante a minha "tur", visitava as jaulas dos felinos, babava de admiração pela cor da araras, visitava o orquidário, o viveiro com suas muitas mudas frutíferas e por último eu me dirigia a um córrego que jorra o ano inteiro no meio do mato. Como ali eu me detinha mais tempo, tratei de “providenciar”uma pedra para que eu pudesse sentar e colocar os pés na água corrente. Ô como isso é agradável! você não tem noção de como isso é bom pra alma, pra mente, pro coração e pra saúde como um todo ! nesses momentos a gente esquece os títulos e as patentes que adquirimos ao longo da caminhada. A gente descobre que tudo que se quer, é ser apenas gente e gente feliz, cheia de paz e sem angústia. Faz um ano que estou fora de produção. Faz um ano que não sinto necessidade de voltar à bica como terapia. Mas confesso que, com ou sem estresse, é um lugar que nos faz muito bem visitar. Nessa foto estou entre as alamedas. Cheirinho de mato molhado !! boooom !

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Correndo Atrás do Vento


Sempre que falece alguém de destaque na sociedade, pessoas que viveram com suas agendas abarrotadas de compromissos, pessoas que correram o dia todo de um lado pro outro na tentativa de dar conta dos compromissos, pessoas que “perderam” a intimidade com a família, que nunca mais almoçaram ou jantaram com os filhos, em decorrência do corre-corre, pessoas que não viram os filhos crescer, que nem lembram da fisionomia deles quando bebê, eu fico me perguntando: será se vale a pena mesmo levar esse tipo de vida ? será se não estamos correndo atrás do vento ? afinal para o lugar que vamos não se leva bagagem. E com pouco tempo somos esquecidos.
Não estou com isso estimulando a preguiça, nem fazendo apologia à vadiagem, mas... não seria muito mais interessante e saudável se nós procurássemos viver uma vida equilibrada, sem querer ter tanto e procurando ser mais. Sem querer ter tantos empregos que nos toma o tempo de vivermos em família, sem querer ter tantas coisas caras que nos obriga a “correr atrás” pra pagar. Já pensou se de repente nós quiséssemos nos presentear dizendo: eu quero ser feliz, eu quero ter tempo pra mim e pros meus, eu quero poder acordar mais tarde, eu quero ter a liberdade de escolher a hora de dormir, eu não quero ser escravo do relógio.
Lembro que ao longo dos meus 22 anos de jornalismo, já “penei” muito. Correndo de uma redação pra outra, além de compromissos extras como trabalhos de free-lance. Era o dia inteiro entre externas e internas. “Comendo de marmita” pelos corredores das empresas, pra economizar tempo. Tempo que eu amei enquanto estava atuando, mas, hoje, por dinheiro nenhum, eu voltaria a fazer. O único benefício que adquiri ao longo desses anos, foi a amizade e o carinho de algumas pessoas e que perduram até hoje. No mais, o meu corre-corre, não me proporcionou nada substancial. Se hoje eu tivesse a chance de voltar o tempo, sabendo como seria o futuro, eu, de rocha, não viveria presa dentro de quatro paredes geladas correndo atrás do vento. Procuraria viver mais as coisas simples da vida.

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Seu Útero é no Coração


Graça é uma criatura das melhores que eu conheço. A descobri lá no interior, ainda muito jovem, aos 18 anos e a convidei para morar com minha família. De pronto ela aceitou. Das minhas secretárias, ela foi a que mais tempo ficou conosco e a mais tudo. Graça era a mais rápida nas tarefas, a mais gastadeira, a mais limpa, mais organizada, cozinhava divinamente, super de bem com a vida, nada perturbava a mente dela. Amava meus filhos como se fossem dela.

Até que um dia graça se “engraçou” por um rapaz que hoje é seu esposo, em 1991e fiz seu casamento contra minha vontade, pois se dependesse de mim, até hoje ela estaria conosco.Mas atentem no detalhe: aluguei uma casa pra ela bem próxima à minha.

Continuamos na mesma sintonia. Eu passava o dia fora e ela na minha casa cuidado dos meus. Só ia pra casa à noite. O tempo foi passando e nada de Graça engravidar. Louca por criança como ela ! aconselhei ir ao médico. Foi e fez todos os exames. Resultado: totalmente estéril. Ela ficou muito triste e eu tentei consolar dizendo que seu útero era no coração. Era do coração que ela iria gerar filhos.

Passados alguns meses, uma irmã “dispanaviada” de Graça, ficou grávida e tentou de todas as maneiras matar o feto. Tomou tudo que ensinaram para abortar, mas Gabrielzinho, mesmo com suas perninhas tortas bateu o pé e disse: “daqui não saio, daqui ninguém me tira, agora”.


A criança nasceu aos quase 7 meses. Passou dois meses numa incubadora. E Graça passou esse tempo todinho dentro da maternidade dando assistência afetiva ao menino, que de longe já sentia que aquela seria mãe.

Nessa altura, sua irmã dispanaviada, já estava no mundo providenciando outro filho e o rejeitou totalmente . O menino recebeu alta, com 1 kg e poucas gramas, tão pequenino, dormia numa caixa de sapato. Eu mesma o vi dentro da caixinha e pude contemplar a grandeza do amor materno que emanava daquele útero do coração de Graça.

Ela o acolheu como mãe, o registrou em seu nome. E Gabrielzinho ia se desenvolvendo muito lentamente. Nasceu com as pernas e pés atrofiados de tanto “veneno” que lhe foi injetado pra morrer. Graça cheia de amor e com poucos recursos não mediu esforços, fez da vida de Gabriel um verdadeiro desafio para a sua própria vida.

Entra ano e sai ano, Gabriel passa por hospitais, clínicas, cirurgias, fisioterapias etc. Passados 3 anos, lá vem mais uma gravidez da irmã dispanaviada. Mais uma vez, ameaça abortar. Mas Graça, com seu amor de mãe, pediu que ela não fizesse isso. Nasce Isabel. Graça assume a criança. A irmã se manda de novo, só que antes de cair no mundão, providenciamos a “castração”, para que não viesse o terceiro filho. Graça mudou-se para outra cidade e perdemos o contato por alguns anos. No natal do ano passado, para minha alegria, Graça volta a morar perto de mim. Estive em sua casa recentemente e pude brincar com as crianças.


Gabrielzinho é um milagre de Deus. Aos 10 anos de idade, apesar da dificuldade para andar, estuda, faz tratamento na Funad, ama demais os pais. Ama ir a igreja. Ele faz da bíblia seu livro de cabeceira. Perguntei-lhe: “porque você gosta de ler a bíblia” ? e ele me deu uma resposta totalmente sábia e compreensível. Disse-me com suas palavras mais ou menos isso: “porque era pra mim ter nascido morto, mas Deus quis que eu vivesse, por isso eu amo Ele”.

Gabriel tem 10 anos, Isabel acho que 7 e para minha surpresa ao chegar na casa de Graça semana passada, tinha mais um de 2 anos de idade. Já de outra irmã dispanaviada. Eu perguntei para Graça “será se vai começar tudo de novo” ? ela me disse que não, pois já havia mandando arrancar todos os canais possíveis de geração de vida da irmã.

É isso. Graça é feliz, tem 3 filhos e não reclama da vida. Sempre que posso estou dando-lhe a mão.

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Nesse Dia Choveu


Nesse Dia Choveu


Nascida no interior, criada na capital. É assim que defino minha naturalidade. Deixei minha terra natal “Sumé” no ano de 1979, mas nunca perdi as raízes. Pelo contrário, sou cada vez mais apaixonada por coisas do interior, coisas da nossa gente, coisas simples, desburocratizadas e que só nos fazem bem. Confesso que não viajo com freqüência ao Cariri, mas sempre que posso...
Quem nasceu no interior sabe do que estou falando. Época de chuva, açude sangrando, é uma alegria só. Lembro que aos 14, 15 anos, quando chegava essa época, eu e mais uma “ruma” de colegas corríamos às primeiras lâminas d’água pra aproveitar bem e fazíamos aquela farra à base de galeto com coca-cola ( álcool não combina com nada não é ? ou não ? combina sim. Álcool combina com algodão, com limpeza... essas coisas). Os anos se passaram. Quase 30. Fiquei uns 5 anos sem ir à Sumé. Soube que um sol implacável tinha bebido toda ( ou quase toda ) a água do manancial da minha adolescência. Resolvi visitar a terrinha. Fui com filhos e marido ver o açude. Grande foi o impacto emocional quando adentrei naquelas brenhas e vi o que outrora era um grande reservatório, resumido em milhas e milhas de terra seca, rachada, sem vida.
Filhos e marido, voltaram para o carro, sem entender porque eu queria ficar mais tempo ali, andando de um lado para o outro. Eu entendi a atitude deles, afinal, aquilo que os olhos não viram o coração jamais poderia sentir. Eles não eram filhos daquela terra.
Pedi que fossem andando que eu já os acompanhava. Alí, na companhia do sol e da sequidão, a única água que bateu no chão foi a que desceu dos meus olhos. Chorei e ensaiei um cantarolado triste de um trecho da música de Gonzagão. Cantei mais ou menos assim: “Senhor perdoa esse pobre coitado, que de joelhos rezou um bocado, pedindo pro sol raiar sem parar... Senhor será se o sr se zangou”... então eu lembrei de um trecho da bíblia sagrada que diz que tudo que pedirmos com fé, ao Pai em nome do Filho, Ele fará. E assim eu fiz. Pedi ao Pai, em nome do filho, que como sinal que Ele teria recebido minha oração, fizesse chover naquela cidade que há anos não sabia o que era isso. À noite, ouvi um barulho de vento forte e pingos de chuva que caiam desembestados, como se quisessem tirar o desconto de há muito não fazer aquilo. As bicas cantavam de júbilo. Até as goteiras foram bem vindas. E eu, esta pobre pecadora, agradeci a Deus pelo sinal que veio do céu. Esta foto foi tirada no açude, na fase terminal de abastecimento.