sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Providência Divina em Pleno Carnaval


O período carnavalesco, me remete a um relance de vida que me marcou profundamente. Todos os anos as mesmas cenas se repetem. Verão, férias, carnaval, praias lotadas. Muitos turistas, inclusive de outros países. Muitos paraibinhas gente boa, que vem do interior com amigos e família – os famosos farofeiros - que as vezes, se deleitam com o passeio, enchem a cara e esquecem os filhos dentro de uma poça dágua qualquer.
Há exatos 15 anos atrás, eu trabalhava na Rádio Correio da Paraíba e em pleno período de carnaval fui incumbida de ancorar um programa. Trabalhei os três dias de momo, fazendo link com outras emissoras da Paraíba e de outros Estados. No terceiro dia, quando eu estava chegando ao prédio na avenida Pedro II, por volta das 12:30h, ao passar pela portaria, “seu Silas” estava atendendo um casal em desespero. A mãe chorava mais que falava. Finalmente eu consegui entender que a filha de 4 anos havia sumido da praia. Anotei a cor da roupa da menina, do biquine que ela usava, seus traços, etc etc. Dei minha palavra que iria divulgar na rádio. Eles me disseram que moravam em Campina Grande e que estariam aguardando alguma notícia em frente a uma loja de roupas situada à Rua B.Rohan, em João Pessoa.
Me desloquei ao estúdio, muito abalada com aquela cena, afinal eu sou mãe e me coloquei no lugar dela. E, atentem no detalhe: eu estava com quase 8 meses de gestação. Aí já dá pra imaginar o clima não é ? fiz meu trabalho, tentando passar alegria pros ouvintes, afinal, são ossos do nosso sofrido ofício. Lá pras cinco horas da tarde, já cansada de estar o tempo todo sentada, resolvi dar uma esticada nas pernas e respirar um pouco de ar puro ( ar puro porque em pleno carnaval às 5 da tarde, não se vê um carro sequer soltando seu dióxido de carbono - CO2- no centro ). Pois bem, saí do estúdio e fiquei na entrada do prédio, ali onde tem aquele jardim. Como todos sabem, ali bem em frente ao SCC tem um semáforo. Quando fui chegando, o sinal estava fechado e tinha um carro parado com um casal e uma criança. O motorista, um gringo, falando o português com muita dificuldade, me perguntou se eu sabia onde tinha uma TV ou rádio. Nisso eu desci até a calçada e ao me aproximar deles, vi a menina que tinha as mesmas descrições, com a mesma roupa. Só podia ser ela. Daí, fomos nos esforçando pra entender um ao outro e quando a menina disse o nome. Foi tiro e queda.
Deixei a rádio tocando frevos e saí com o barrigão de 8 meses, pra devolver a menina aos pais. Naquela época, o celular tava chegando e só os “ricos” compravam. O fato é que eu não tinha como me comunicar com os pais da menina e dá a notícia. Num rompante de muita coragem – coisa de mãe – entrei no carro dos gringos, e lá fomos nós, rumo à B. Hohan.
Lembro como se fosse hoje. Quando chegamos no local onde a família da menina esperava, ao ver a garota, seus pais e amigos se jogaram em cima do carro, batiam, gritavam, foi uma manifestação digna de uma cena de novela.
Depois de muito choro e muitos abraços, na filha, chegou a minha vez. Me espremeram tanto que eu “vi a hora” ter menino ali mesmo. Mas tudo perfeitamente compreensível. Fomos embora com a promessa de que a mãe nunca mais discuidaria da filha.
Passaram-se uns 10 anos e resolvi fazer uma surpresa a mãe da menina. Ela havia me dito onde trabalhava. E numa das idas à Campina Grande, me dirigi ao caixa onde a mãe da menina estava. Quando me identifiquei, voltou tudo na cabeça da mãe e mais uma vez, lá vem a emoção. O pior poderia ter acontecido, com a criança, mas decidiu Deus, guardá-la. Então é isso. Todo ano eu lembro dessa providência divina.

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

O Homem do Fardo Pesado



Acredito que muita gente que está lendo agora, já viu essa figura andando pelas ruas da capital. Um homem de estatura baixa, cabelos grisalhos, todo esfarrapado, vestido com várias roupas uma por cima da outra, com um enorme saco de bugigangas nas costas e um trambolho de metal na cabeça. Este ser, digno de piedade de quem o ver, anda sem destino de um bairro a outro.
Eu mesma já o vi em vários pontos diferentes de João Pessoa. Andando vagarosamente, com aquele peso opressor às costas.
Pois bem, pasmem com o que eu vou lhes dizer. Sempre que eu o avisto, faço comentários com as pessoas que estão ao meu lado e num desses comentários, eu fiquei sabendo que aquele senhor, tem nada mais, nada menos, que três graduações universitárias, é de família importante e bem conhecida e é detentor de um certo poder aquisitivo.
O que o levou a resolver viver assim, ninguém sabe ao certo, mas fala-se em decepção amorosa. Desengano de vida.
Já tentaram abordá-lo e arrancar alguma informação acerca de sua vida. Quando ele está na “veia boa” como diz o provérbio popular, ele fala tranquilamente, mas quando não, apenas balança a cabeça.

Pra Que Esse Corpo ?


O fato é cada vez mais corriqueiro. Adolescentes, jovens e até adultos com baixa autoestima, veem na perda de peso um meio de se sentirem mais bonitos e bem “aceitos” pela sociedade. Entretanto, o culto ao corpo muitas vezes ultrapassa o limite do bom senso e da saúde, levando à morte. Publicação do G1, diz que A jornalista Lanusse Martins, de 27 anos, morreu no início da tarde desta segunda-feira (25), em uma clínica particular, em Brasília, após uma cirurgia de lipoaspiração
Eu fico me perguntando, até que ponto vale à pena esse culto ao corpo que tem levado tantas mulheres à morte ? Respeitando que tem dinheiro pra fazer quantas plásticas quiser, eu acho um absurdo essa “danação” de mortes de mulheres que aparentemente nem precisavam dessa praga chamada “lipoaspiração” que tem dizimado sem discriminação, donas de casa, atrizes, médicas, profissionais liberais etc.
Em nossa sociedade capitalista e de consumo, o corpo tem se tornado fonte de energia e para atingir um corpo saudável, sacrifícios tem sido realizados para atingir o estereotipo de beleza e se enquadrar nas medidas, regras, peso e volume.
A todo o momento somos bombardeados com mensagens liminares e subliminares que nos pedem que vendamos nossas idéias em troca de nossos corpos, como se nossa salvação dependesse da boa forma e da boa aparência.
Lanusse era repórter na TV Justiça e em 2009 também trabalhou na TV Globo de Brasília. Na segunda-feira pela manhã ela deu entrada em uma clínica na Asa Sul, área nobre da capital, para fazer uma lipoescultura. Médicos da clínica não quiseram dar entrevista. Mesmo assim, um deles disse que Lanusse teve uma embolia pulmonar após a cirurgia.
Lanusse, 27 anos, não precisava morrer agora e por motivo de lipoaspiração. Mas antes, ela tivesse seguindo o conselho de Mateus... “Vinde a mim, todos que estais cansados e sobrecarregados, e vos aliviarei.” (Mateus 11.28)


sábado, 23 de janeiro de 2010

Quando a Fome Fala mais Alto


Há cerca de 15 dias, por voltas das 14:30, quando eu me dirigia pelo Parque Solon de Lucena, anel interno, a fim de pegar um ônibus e sair correndo pra resolver uma pendência, minha barriga aos berros, me fez lembrar que eu não tinha almoçado ainda. Então eu resolvi fazer um lanche rápido, num daqueles quiosques da Lagoa.

Sentei e pedi uma batata recheada com um refrigerante. Enquanto aguardava numa mesa um tanto reservada, tirei o óculos escuro e fiquei observando as pessoas que passavam pra lá e pra cá. Do meu lado esquerdo, numa mesa, próximo à passarela, saboreando um lanche, estavam uma senhora de cabelos mais ou menos brancos e uma jovem que devia ser sua neta.

Um rapaz aparentando uns vinte anos, com cara de gente boa, com olhar de quem tava falando a verdade, se aproximou dessa senhora de cabelos brancos e pediu-lhe com muita educação que ela lhe pagasse um lanche. Atentem no detalhe. Ele pediu comida. Não foi dinheiro. Essa senhora, que até pela idade já deve ter tido várias oportunidades de conhecimento e de experiência de vida, destratou o rapaz, o enxotou como nem a um cão sarnento se deve fazer. O rapaz prontamente, sem dar uma palavra, deu meia volta volver e sentou no chão. Aquilo me doeu lá no fundo. A mente da minha alma fez uma leitura rápida de quão agressiva foi aquela resposta no coração daquele esfomeado. Involuntariamente, senti lágrimas descerem no meu rosto e coloquei o óculos. Quando levantei para oferecer-lhe um lanche, a fome era tanta na barriga daquele rapaz, bem maior que sua dignidade, que ele já havia esquecido o coice que havia levado há poucos instantes e pedido a outra senhora que acabara de aportar no mesmo quiosque.

Esta segunda senhora, foi humana, foi gente. Foi aquilo que o mundo clama: humanidade. Sentou-se numa mesa e mandou trazer um sanduíche com refrigerante para o mesmo. Fiquei observando-o. O sanduíche só deu pra dar duas “bocadas”. Eu chamei o garçom e pedi que perguntasse se ele queria mais comida. Ele, é claro, disse que sim. Pedi que preparassem algo mais para o jovem.

Ao levantar ir embora, passei pelo jovem, coloquei a mão no seu ombro e disse-lhe “ eu vi a forma como você foi tratado, esqueça isso, você pode não ser importante para as pessoas, mas para Deus você é”.

Ele me agradeceu várias vezes pela segunda remessa do lanche e ainda desejou que Deus me abençoasse.

Não sei o nome dele, nem nunca mais o vi. Também não sei que nome dá ao sentimento que senti.

Janeiro de 2010