quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Uma Pessoa, Duas Realidades


Tive uma grande perda em 2002. Perdi uma sobrinha de 13 anos. Menina linda, já uma mocinha. Perfeita. Tudo nela era bonito. O seu viver então nem se fala... cheia de alegria, de brincadeiras, de saúde, era uma “draguinha”. Gostava de reunir os primos, as coleguinhas pra brincar de teatro em casa.
Até que um dia começou a dar sinal que tinha algo de errado com sua saúde. A mãe correu pro médico, fizeram exames e foi constatado leucemia. Começou o tratamento de quimio e radioterapia. A resposta era lenta, mas Jéssica era forte e continuava com a mesma alegria de antes, totalmente alheia ao que estava lhe acontecendo. Feito o teste de compatibilidade de medula com uma das irmãs e o resultado foi ok. Tudo pronto para viajar à São Paulo onde o transplante seria feito.
(abrindo aqui um parêntese para dizer o quanto lugares, cheiros e músicas nos remetem ao passado com ligeireza de fazer espanto - A avenida liberdade de Bayeux, é um lugar que eu não gosto de passar. No final do texto você vai saber porque).
Chegou o dia da viagem de Jéssica para São Paulo, onde iria se submeter ao transplante de medula. Todos os parentes que puderam vir, vieram. Eu cheguei logo cedo na casa da minha irmã ( a mãe de Jéssica ), com meus filhos que eram carne e unha com ela. Todos se esforçavam pra parecer um dia normal. Mulheres na cozinha, homens na sala, crianças brincando, mas meu coração de tia estava apertado demais e um sentimento de ída sem volta estava impregnado dentro de mim. O que eu senti foi muito ruim. Segui os passos da minha sobrinha, brinquei muito com ela, inclusive almocei pela última vez ao seu lado. Era como se eu quisesse aproveitar cada minuto de sua vida alí comigo.
Janeiro de 2002. Domingo, vôo às 14:30.Fomos todos para o aeroporto Castro Pinto. Não lembro quantos carros. Mas lembro que passamos pela avenida Liberdade e todos riam com ela. Ao chegar no aeroporto, tiramos várias fotos, ela super-feliz por voar pela primeira vez. Eu, o tempo todo segurando pra não chorar. Mas eu sentia que aquela seria a última foto, o ultimo abraço, o último sorriso, o último carinho, o último tudo com ela.
Voaram. Durante a internação, Jéssica tirou fotos, fez um diário, escreveu coisas dignas de uma despedida. Finalmente chegava o dia do transplante. Mas no calendário do criador o tempo já dela já estava cumprido. Com a imunidade baixa, um motivo qualquer a levou para o CTI e de lá adormeceu para sempre.
As mesmas pessoas que as deixaram, foram as mesmas que as receberam de volta no aeroporto. Só que em duas realidades diferentes. Jéssica viajou sentada ao lado da mãe, num lugar onde só é permitido entrada de pessoas. Mas, voltou longe da mãe, num local onde só é permitido a entrada de cargas. Isso foi muito duro. Hoje, passados 8 anos, tenho mais consciência de quão transitória é nossa vida. Cada minutinho respirando, vivendo, é uma preciosidade. Valorize isso! Essa foi a última foto em solo paraibano, tirada dentro do avião.

2 comentários:

Anônimo disse...

Boa noite, me chamo Otávio Nogueira, sou gaúcho, moro em Porto Alegre/Rio Grande do Sul, sou estudante de Direito PUCRS e tenho uma amigo que tem câncer assim como eu, ele mora em João Pessoa, ele tem 23 anos e esta na luta do câncer faz um tempo. Tu deve estar pensando mas que louco este gaúcho falando de um guri que tem câncer, porque ele esta comentando no meu blog? Bom estou pedindo uma força a divulgar o assunto sobre dignidade de saúde, de tratamento entre outros... Estou pedindo que vc ler este blog de uma amiga baiana que esta morando nos Estados Unidos e escreveu sobre o assunto que peço que divulgue: http://mulheremcrescimento.blogspot.com/2010/02/respeito-e-bom-e-e-curador.html Este é o blog dela onde ela fala sobre o assunto sobre dignidade e respeito de saúde, e pensei como vc que é da região poderia dar uma força.
Agradeço desde já..
Espero que entre nesta batalha...
Abraços
Tavinho

Anônimo disse...
Este comentário foi removido pelo autor.