quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Nesse Dia Choveu


Nesse Dia Choveu


Nascida no interior, criada na capital. É assim que defino minha naturalidade. Deixei minha terra natal “Sumé” no ano de 1979, mas nunca perdi as raízes. Pelo contrário, sou cada vez mais apaixonada por coisas do interior, coisas da nossa gente, coisas simples, desburocratizadas e que só nos fazem bem. Confesso que não viajo com freqüência ao Cariri, mas sempre que posso...
Quem nasceu no interior sabe do que estou falando. Época de chuva, açude sangrando, é uma alegria só. Lembro que aos 14, 15 anos, quando chegava essa época, eu e mais uma “ruma” de colegas corríamos às primeiras lâminas d’água pra aproveitar bem e fazíamos aquela farra à base de galeto com coca-cola ( álcool não combina com nada não é ? ou não ? combina sim. Álcool combina com algodão, com limpeza... essas coisas). Os anos se passaram. Quase 30. Fiquei uns 5 anos sem ir à Sumé. Soube que um sol implacável tinha bebido toda ( ou quase toda ) a água do manancial da minha adolescência. Resolvi visitar a terrinha. Fui com filhos e marido ver o açude. Grande foi o impacto emocional quando adentrei naquelas brenhas e vi o que outrora era um grande reservatório, resumido em milhas e milhas de terra seca, rachada, sem vida.
Filhos e marido, voltaram para o carro, sem entender porque eu queria ficar mais tempo ali, andando de um lado para o outro. Eu entendi a atitude deles, afinal, aquilo que os olhos não viram o coração jamais poderia sentir. Eles não eram filhos daquela terra.
Pedi que fossem andando que eu já os acompanhava. Alí, na companhia do sol e da sequidão, a única água que bateu no chão foi a que desceu dos meus olhos. Chorei e ensaiei um cantarolado triste de um trecho da música de Gonzagão. Cantei mais ou menos assim: “Senhor perdoa esse pobre coitado, que de joelhos rezou um bocado, pedindo pro sol raiar sem parar... Senhor será se o sr se zangou”... então eu lembrei de um trecho da bíblia sagrada que diz que tudo que pedirmos com fé, ao Pai em nome do Filho, Ele fará. E assim eu fiz. Pedi ao Pai, em nome do filho, que como sinal que Ele teria recebido minha oração, fizesse chover naquela cidade que há anos não sabia o que era isso. À noite, ouvi um barulho de vento forte e pingos de chuva que caiam desembestados, como se quisessem tirar o desconto de há muito não fazer aquilo. As bicas cantavam de júbilo. Até as goteiras foram bem vindas. E eu, esta pobre pecadora, agradeci a Deus pelo sinal que veio do céu. Esta foto foi tirada no açude, na fase terminal de abastecimento.


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