segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Seu Útero é no Coração


Graça é uma criatura das melhores que eu conheço. A descobri lá no interior, ainda muito jovem, aos 18 anos e a convidei para morar com minha família. De pronto ela aceitou. Das minhas secretárias, ela foi a que mais tempo ficou conosco e a mais tudo. Graça era a mais rápida nas tarefas, a mais gastadeira, a mais limpa, mais organizada, cozinhava divinamente, super de bem com a vida, nada perturbava a mente dela. Amava meus filhos como se fossem dela.

Até que um dia graça se “engraçou” por um rapaz que hoje é seu esposo, em 1991e fiz seu casamento contra minha vontade, pois se dependesse de mim, até hoje ela estaria conosco.Mas atentem no detalhe: aluguei uma casa pra ela bem próxima à minha.

Continuamos na mesma sintonia. Eu passava o dia fora e ela na minha casa cuidado dos meus. Só ia pra casa à noite. O tempo foi passando e nada de Graça engravidar. Louca por criança como ela ! aconselhei ir ao médico. Foi e fez todos os exames. Resultado: totalmente estéril. Ela ficou muito triste e eu tentei consolar dizendo que seu útero era no coração. Era do coração que ela iria gerar filhos.

Passados alguns meses, uma irmã “dispanaviada” de Graça, ficou grávida e tentou de todas as maneiras matar o feto. Tomou tudo que ensinaram para abortar, mas Gabrielzinho, mesmo com suas perninhas tortas bateu o pé e disse: “daqui não saio, daqui ninguém me tira, agora”.


A criança nasceu aos quase 7 meses. Passou dois meses numa incubadora. E Graça passou esse tempo todinho dentro da maternidade dando assistência afetiva ao menino, que de longe já sentia que aquela seria mãe.

Nessa altura, sua irmã dispanaviada, já estava no mundo providenciando outro filho e o rejeitou totalmente . O menino recebeu alta, com 1 kg e poucas gramas, tão pequenino, dormia numa caixa de sapato. Eu mesma o vi dentro da caixinha e pude contemplar a grandeza do amor materno que emanava daquele útero do coração de Graça.

Ela o acolheu como mãe, o registrou em seu nome. E Gabrielzinho ia se desenvolvendo muito lentamente. Nasceu com as pernas e pés atrofiados de tanto “veneno” que lhe foi injetado pra morrer. Graça cheia de amor e com poucos recursos não mediu esforços, fez da vida de Gabriel um verdadeiro desafio para a sua própria vida.

Entra ano e sai ano, Gabriel passa por hospitais, clínicas, cirurgias, fisioterapias etc. Passados 3 anos, lá vem mais uma gravidez da irmã dispanaviada. Mais uma vez, ameaça abortar. Mas Graça, com seu amor de mãe, pediu que ela não fizesse isso. Nasce Isabel. Graça assume a criança. A irmã se manda de novo, só que antes de cair no mundão, providenciamos a “castração”, para que não viesse o terceiro filho. Graça mudou-se para outra cidade e perdemos o contato por alguns anos. No natal do ano passado, para minha alegria, Graça volta a morar perto de mim. Estive em sua casa recentemente e pude brincar com as crianças.


Gabrielzinho é um milagre de Deus. Aos 10 anos de idade, apesar da dificuldade para andar, estuda, faz tratamento na Funad, ama demais os pais. Ama ir a igreja. Ele faz da bíblia seu livro de cabeceira. Perguntei-lhe: “porque você gosta de ler a bíblia” ? e ele me deu uma resposta totalmente sábia e compreensível. Disse-me com suas palavras mais ou menos isso: “porque era pra mim ter nascido morto, mas Deus quis que eu vivesse, por isso eu amo Ele”.

Gabriel tem 10 anos, Isabel acho que 7 e para minha surpresa ao chegar na casa de Graça semana passada, tinha mais um de 2 anos de idade. Já de outra irmã dispanaviada. Eu perguntei para Graça “será se vai começar tudo de novo” ? ela me disse que não, pois já havia mandando arrancar todos os canais possíveis de geração de vida da irmã.

É isso. Graça é feliz, tem 3 filhos e não reclama da vida. Sempre que posso estou dando-lhe a mão.

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