sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Por Trás do Palácio Vivem Menores Drogados e Prostituídos



O sol mal toca o solo pessoense, eles já estão lá. Muitos, e em eterno processo de multiplicação. Uns dormem por lá, não vão nem em casa. Outros esporadicamente visitam a casa da família.

Rua da República é o endereço deles, é ao mesmo tempo, o céu e o inferno. Nele, eles experimentam de tudo. O dinheiro para o tíner, o crack, o álcool, seja por doação ou ameaça; brincadeiras improvisadas, o furto, os tapas daqueles que demarcam seus territórios. Não há solidariedade entre eles. E, assim, eles vão vendo os dias passarem com suas fantasias maltrapilhas e malcheirosas que corrói nariz, pulmão e fígado, estômago, coração e mente; corrói tudo que encontra.

Semana passada fui comprar um material na Rua da República, por volta das 09hs da manhã e saí de lá chorando, com o coração angustiado pela cena. Crianças, adolescentes, que passaram à noite se drogando, dormiam pelas calçadas. Fiquei a pensar: quando cai a madrugada, deve bater a fome, o medo, o frio. Será por isso que eles se amontoam, buscando a proteção do grupo, e desfalecem, como se fossem cadáveres nos campos de concentração nazistas ? Um deles tão magrinho, a pele parecia verde, os lábios roxos. Deve ter a idade do meu filho caçula. Lembrando dos nossos filhos, tão bem tradados e vendo aqueles projetinhos de gente desfalecidos pela droga, não pude conter minha indignação. O modo de viver deles causa também dó e compaixão. Me veio a certeza: isso é descaso. As instituições necessitam ressuscitar, antes que sepultem com elas a dignidade humana. Precisamos urgentemente estabelecer o que é homem e o que é bicho. Onde estão as ONGs ? MPs ? E o ECA ? quem o fará cumprir ? Onde estão os governos que não criam instrumentos de trabalho, inclusão social, para que estes passem o dia e à noite envolvidos em atividades sócio-educativas ? Na verdade, existem centenas de ONGs no mundo inteiro que têm dispensado um tratamento tão especial aos animais que se, igual tratamento fosse destinado aos humanos excluídos, já estaria de bom tamanho.

Ano passado, quando reportava para o Programa Tribuna Cristã ( TV Tambaú ), cheguei bem cedinho à Lagoa ( Parque Solon de Lucena ) para fazer uma reportagem sobre o uso de drogas na adolescência. Acordei alguns meninos e meninas que dormiam debaixo de um quiosque e fui conversar com um deles. Pude perceber que a maioria caiu nessa vida, devido a problemas familiares. Pais alcoólatras que os expulsaram de casa.Outros que foram obrigados pelos pais a cometerem furtos. Confesso que fiquei penalizada.

Após aconselhá-los para o bem, ( mesmo sabendo que aquilo não iria surtir efeito ) perguntei: por que as vezes além de levar os pertences ainda se mata ou fere as pessoas ? Um deles respondeu: É que sem a droga a gente não vive e a gente faz isso pra continuar vivendo, tá ligado”?
E assim é a Rua da República, a Lagoa, a praia. O bosque dos pesadelos das crianças-órfãs de dignidade.

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