Há exatos 15 anos atrás, eu trabalhava na Rádio Correio da Paraíba e em pleno período de carnaval fui incumbida de ancorar um programa. Trabalhei os três dias de momo, fazendo link com outras emissoras da Paraíba e de outros Estados. No terceiro dia, quando eu estava chegando ao prédio na avenida Pedro II, por volta das 12:30h, ao passar pela portaria, “seu Silas” estava atendendo um casal em desespero. A mãe chorava mais que falava. Finalmente eu consegui entender que a filha de 4 anos havia sumido da praia. Anotei a cor da roupa da menina, do biquine que ela usava, seus traços, etc etc. Dei minha palavra que iria divulgar na rádio. Eles me disseram que moravam em Campina Grande e que estariam aguardando alguma notícia em frente a uma loja de roupas situada à Rua B.Rohan, em João Pessoa.
Me desloquei ao estúdio, muito abalada com aquela cena, afinal eu sou mãe e me coloquei no lugar dela. E, atentem no detalhe: eu estava com quase 8 meses de gestação. Aí já dá pra imaginar o clima não é ? fiz meu trabalho, tentando passar alegria pros ouvintes, afinal, são ossos do nosso sofrido ofício. Lá pras cinco horas da tarde, já cansada de estar o tempo todo sentada, resolvi dar uma esticada nas pernas e respirar um pouco de ar puro ( ar puro porque em pleno carnaval às 5 da tarde, não se vê um carro sequer soltando seu dióxido de carbono - CO2- no centro ). Pois bem, saí do estúdio e fiquei na entrada do prédio, ali onde tem aquele jardim. Como todos sabem, ali bem em frente ao SCC tem um semáforo. Quando fui chegando, o sinal estava fechado e tinha um carro parado com um casal e uma criança. O motorista, um gringo, falando o português com muita dificuldade, me perguntou se eu sabia onde tinha uma TV ou rádio. Nisso eu desci até a calçada e ao me aproximar deles, vi a menina que tinha as mesmas descrições, com a mesma roupa. Só podia ser ela. Daí, fomos nos esforçando pra entender um ao outro e quando a menina disse o nome. Foi tiro e queda.
Deixei a rádio tocando frevos e saí com o barrigão de 8 meses, pra devolver a menina aos pais. Naquela época, o celular tava chegando e só os “ricos” compravam. O fato é que eu não tinha como me comunicar com os pais da menina e dá a notícia. Num rompante de muita coragem – coisa de mãe – entrei no carro dos gringos, e lá fomos nós, rumo à B. Hohan.
Lembro como se fosse hoje. Quando chegamos no local onde a família da menina esperava, ao ver a garota, seus pais e amigos se jogaram em cima do carro, batiam, gritavam, foi uma manifestação digna de uma cena de novela.
Depois de muito choro e muitos abraços, na filha, chegou a minha vez. Me espremeram tanto que eu “vi a hora” ter menino ali mesmo. Mas tudo perfeitamente compreensível. Fomos embora com a promessa de que a mãe nunca mais discuidaria da filha.
Passaram-se uns 10 anos e resolvi fazer uma surpresa a mãe da menina. Ela havia me dito onde trabalhava. E numa das idas à Campina Grande, me dirigi ao caixa onde a mãe da menina estava. Quando me identifiquei, voltou tudo na cabeça da mãe e mais uma vez, lá vem a emoção. O pior poderia ter acontecido, com a criança, mas decidiu Deus, guardá-la. Então é isso. Todo ano eu lembro dessa providência divina.