sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Não Vendo, Não Troco, Não Dou


Não Troco, Não Vendo, Não Dou

Próximo do final do ano passado, fomos convidados para um almoço na residência de Alexandre Delgado, no bairro de Manaíra, na capital. Alexandre é um monteirense “caba da peste”de gente boa, uma dessas figuras que você gosta de graça.
Conversa vai, conversa vem, enveredamos pela questão da insegurança e consequentemente da violência que tão de perto nos rodeia. Ouvi da esposa de Alexandre, que agora deu um branco no seu nome, um depoimento muito forte, que realmente mexeu com um desejo misturado com a necessidade que eu sinto de mudar de bairro e morar num local mais próximo da praia.
Enquanto eu conhecia cada recanto da casa, uma senhora casa, aconchegante, espaçosa e confortável na Av. João Câncio, eu naturalmente fui falando tudo que estava achando e não poupei elogios. Elogiei o bairro, a localização da casa, a arquitetura, a decoração etc, tudo lindo e perfeito. Mas logo voltei ao mundo real, ao ouvir da boca da anfitriã que eles ali vivem com o refugiados. O medo pela insegurança promovido pela onda de assaltos se tornou íntimo da família. Ninguém consegue ficar no jardim, pra ir na esquina comprar alguma coisa tem que se fazer um mutirão e ficar na tocaia pra ver se não tem nenhum elemento estranho zanzando pela rua, sair de bicicleta pra ir à praia nem pensar. Sair à noite de carro muito menos. Filhos pra ir ao colégio é um aperreio dos pais, pra ir levar e pegar, pois de ônibus ninguém confia no trajeto da parada pra casa. Todos já foram assaltados N vezes. Trauma com força !
Nossa ! acredito que como eu, você também deve está achando um absurdo de exagero. Mas pela expressão na voz e no rosto dessa família, o negócio realmente tava brabo ( tava porque não sei se ainda continua ).
Depois de ouvir tudo isso eu falei, puxa e eu que cheguei aqui pensando, ah quem me dera morar nesse lugar ! foi quando eu passei a contar o dia a dia do meu bairro e da minha família. Moro num conjunto habitacional feito para funcionários públicos na zona sul da capital. Bem distante da praia. Um lugar simples, de gente pacata, onde no final da tarde se pode sentar na calçada. Onde as crianças andam de bicicleta tranquilamente. Onde a gente ainda vê adolescentes descendo a pista em patinetes. Onde o leiteiro, o homem do pão, da fruta, entre outros vendedores passam todos os dias à nossa porta. Onde as roupas dormem no varal e amanhecem no mesmo lugar. Já passei 10 dias fora de casa e deixei várias coisas no jardim, voltei e tava tudo do mesmo jeito. A hora que chego em casa, seja noite ou madrugada, tranquilamente abro o portão, guardo o carro e nunca vi nenhum “pantim”. Meus três rapazes quando saem à noite e voltam depois das 11:30, ou de carro, moto ou ônibus, nunca aconteceu nada com eles, graças a Deus, durante duas décadas. Uma tranqüilidade inexplicável.
Mediante esse meu relato, ouvi da amiga de Manaíra: “você quer trocar de casa comigo” ? “eu daria tudo para morar num lugar assim”. “que inveja eu sinto de você”...
Infelizmente não pretendo vender minha casinha com ares de interior, que me oferece gratuitamente um artigo essencial, fundamental à vida que é a segurança pessoal, que é paz e tranqüilidade. Muito embora sabendo que futuramente vou ter que mudar, para um bairro praiano por uma questão de necessidade e comodidade da família, mas enquanto isso não acontece, vou vivendo essa paz que a maioria das famílias de outros bairros já não conseguem viver. Infelizmente.
Moral dessa história: nem sempre o mais caro, o mais “up”, é sinônimo do melhor. Muitas vezes o mais simples oferece uma demanda de benefícios bem maior e melhor. E este é o meu relances de hoje.

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